terça-feira, 16 de abril de 2019

Lente


Eu queria ser fotógrafo
Não como estes que fotografam casamentos
Com noivos sérios e tristes e noivas saindo de limusines;
Mas para fotografar movimentos de buquês arremessados e a ansiedade e o falso consolo de quem os apanha.
Eu queria ser fotógrafo.
Não para fotografar prédios suntuosos para baneres de agências de turismo
Ou monumentos mundialmente famosos;
Mas para fotografar construções que ilustrassem a letra de Chico Buarque.
Eu queria ser fotógrafo.
Eu amo minha profissão, mas se não fosse comerciária de magazine
Certamente eu jamais registraria as belas modelos nas fotos gigantes de vitrine.
Antes, quereria registrar a espontaneidade desavisada daqueles rostos sem maquiagem
E de seus corpos sem produção.
Eu queria ser fotógrafo.
Não para fotografar angulares e bem focadas paisagens;
Mas para fotografar tortuosidades e ocultas paisagens desfocadas pelo tempo e pela sedição.
Monte de lixo ou entulhos amontoados em calçadas de casas em reforma.
Árvores desnudas no verão e árvores floridas no outono.
Queria fotografar aquela mão, aquela flor, aquele cotidiano que passa despercebido
Do olhar vago e perdido na mesmice da vida sem emoção.
Queria fotografar coisas sem valor algum para a demanda do mercado.
Emoções sutis traduzidas em pequenos momentos não são para se mercandejar.





                                                                                                                    Maria Luiza Franco Bisneta

2 comentários:

  1. A sensibildade do poeta o transporta através do olhar óbvio e corriqueiro para o sublime, sensível e verdadeiro! Parabéns Luiza Franco! Abraços

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